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O Transitus de Francisco: reconciliação das feridas, celebração da vida nova

3 de out de 2024

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Ó alma santíssima, em cujo passamento acorrem os cidadãos dos céus, os coros dos anjos exultam e a gloriosa Trindade convida, dizendo: permanece conosco para sempre.

 Mais uma vez nos reunimos como fraternidade de irmãos e irmãs para celebrar a festa do Seráfico Pai São Francisco de Assis. A família franciscana guarda a belíssima tradição de iniciar as celebrações deste dia festivo de ação de graças com a celebração das primeiras vésperas, na qual se recorda a noite santa na qual o patriarca dos pobres celebrou com seus irmãos a sua Páscoa, à qual acorreram as cortes angélicas para recebê-lo e levá-lo aos céus.

 Esta celebração não se reduz a mera encenação, pietismo, devocionismo ou memória saudosa; ao contrário, deve ser para todos nós ocasião de revigorar a chama do carisma evangélico legado pelo nosso pai Francisco, colocando-nos sempre, de novo, nas trilhas do seguimento de Cristo Jesus. Enquanto dimensão celebrativa e de revigoramento carismático, o Transitus deste ano é ainda mais especial, pois esta noite que tornamos célebre se situa entre duas grandes e importantes celebrações: os oitocentos anos da impressão das chagas, que celebramos, e os oitocentos anos do Cântico das Criaturas, que no próximo ano iremos celebrar.

 Celebrar a Páscoa de nosso fundador é aprender dele algo vivo e sempre novo. E o que podemos aprender nesta ocasião?

 Primeiramente, não podemos deixar de considerar algo que é central no Transitus de São Francisco, que nos deixa, nesta ocasião, suas últimas mensagens, vontades e bênçãos: fidelidade a Cristo e ao Evangelho e, em vista disso, recomeçar sempre e de novo em espírito de verdadeira penitência. Não há como ser franciscano e franciscana sem reconhecer essa dimensão da penitência e da itinerância, a partir das quais somos chamados a olhar para a imagem do próprio Cristo e nos perguntarmos se estamos nos configurando a ela.

 Nosso modo de vida, nossas fraternidades, nossas missões, nossas estruturas, todas elas, são estruturas que favorecem vida nova, ou ainda são sinais de individualismos e territorialismos mesquinhos, que se confundem com um ideal produtivista, técnico e de consumo, das estruturas desta sociedade capitalista? O que estamos fazendo com o Evangelho, como temos vivido e anunciado? A penitência é real ou mera utopia de subjetividades aniquiladas que preferem cruzar os braços e parar à beira do caminho? Temos nos esforçado para nos tornarmos misericórdia com nossos irmãos, ou nos colocamos diante deles, principalmente dos mais pobres, como quem se coloca em um degrau acima? Como temos vivido a misericórdia e a pobreza em nossas fraternidades? Nossa relação com a criação é de fraternidade e coexistência, ou tem sido de exploração, violência e morte?

 São muitas perguntas e muito o que se fazer; contudo, na dinâmica das chagas, do Transitus e do Cântico das Criaturas, somos convidados a integrar em nós a alegria e a dor, o sofrimento e a glória, as incoerências e a santidade, a graça e as nossas vulnerabilidades e, mesmo sabendo que somos imperfeitos e humanos, em um canto de amor e louvor, reconhecer um Deus que se faz grande em nós, e apesar de nós, e, com Ele e por Ele, elevar, nas alegrias e nas dores de cada dia, um cântico novo de amor, gratidão e louvor.

 Juntos, em comunhão universal, somos convidados a reconhecer, como homens e mulheres que se colocam a caminho, um Deus que se esconde na vulnerabilidade e na beleza do cosmos, na dor que consome, nos sofrimentos, nas feridas, “no verde das florestas, nas aves em festa, no sol a brilhar, na brisa amiga, na fonte que corre ligeira a cantar”, nos irmãos, em todo sinal de vida nova, que já nos envolve e que iremos todos encontrar um dia, quando a irmã morte vier nos encontrar.

 Que, motivados por isso, tenhamos uma santa e abençoada festa do Seráfico Pai, São Francisco de Assis.


 Frei Matheus Pereira Sanches, OFM


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3 de out de 2024

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